terça-feira, 9 de junho de 2020

"Instantes"

Caríssimos alunos, parece que chegámos ao final de uma etapa. Eu olho para o percurso que fizemos juntos e tenho a certeza que foi um privilégio ver-vos crescer. 

Vamos assumir que esta publicação é uma espécie de "última aula" (pois as verdadeiras aulas necessitam de presença física, por mais que nos seja útil este mundo digital) e apenas gostava de partilhar convosco este "Instantes". Vou fazer o mesmo, vou lê-lo e imaginar que o estou a fazer na vossa companhia...

Um abraço do vosso amigo,
Luis Leal


(Nota: "Instantes" é um poema atribuído a Jorge Luis Borges, mas cuja autoria ainda suscita muita discussão e polémica. A tradução para português é da minha autoria.)

Instantes

Se pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxar-me-ia mais.
Seria mais parvo do que fui, de facto
levaria muito poucas coisas a sério.
Seria menos higiénico.
Correria mais riscos, faria mais viagens, contemplaria
mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, comeria
mais gelados e menos favas, teria mais problemas
reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e prolificamente
cada minuto da sua vida; claro que tive momentos de alegria.
Mas se pudesse voltar atrás trataria de ter
apenas bons momentos.
Se por acaso não sabem, de isso é feita a vida, só de momentos;
não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a nenhum lado sem um termómetro,
um saco de água quente, um guarda-chuva e um para-quedas;
se pudesse voltar a viver, viajaria mais ligeiro.
Se pudesse voltar a viver começaria a andar descalço ao principio
da Primavera e continuaria descalço até terminar o Outono.
Andaria mais de carrossel, contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez a vida por diante.
Mas já tenho 85 anos e sei que estou a morrer.
(trad. Luis Leal)

Instantes (versão original em espanhol)

Si pudiera vivir nuevamente mi vida.
En la próxima trataría de cometer más errores.
No intentaría ser tan perfecto, me relajaría más.
Sería más tonto de lo que he sido, de hecho
tomaría muy pocas cosas con seriedad.
Sería menos higiénico.
Correría más riesgos, haría más viajes, contemplaría
más atardeceres, subiría más montañas, nadaría más ríos.
Iría a más lugares a donde nunca he ido, comería
más helados y menos habas, tendría más problemas
reales y menos imaginarios.
Yo fui una de esas personas que vivió sensata y prolíficamente
cada minuto de su vida; claro que tuve momentos de alegría.
Pero si pudiera volver atrás trataría de tener
solamente buenos momentos.
Por si no lo saben, de eso está hecha la vida, sólo de momentos;
no te pierdas el ahora.
Yo era uno de esos que nunca iban a ninguna parte sin termómetro,
una bolsa de agua caliente, un paraguas y un paracaídas;
Si pudiera volver a vivir, viajaría más liviano.
Si pudiera volver a vivir comenzaría a andar descalzo a principios
de la primavera y seguiría así hasta concluir el otoño.
Daría más vueltas en calesita, contemplaría más amaneceres
y jugaría con más niños, si tuviera otra vez la vida por delante.
Pero ya tengo 85 años y sé que me estoy muriendo.

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