quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Obrigado João (e a todos que tenho que agradecer...)







Obrigado João (e a todos que tenho que agradecer...) 25/XI/2015

Lembro-me quando descobri que a família Afonso não se esgotava no gesto de fidelidade e inconformismo de quem não esquece Abril. Era adolescente, como a maioria dos que estão nesta sala, e também eu procurava um lugar no mundo. Hoje sei que o João Afonso é tão meu como o Zeca foi, e é, dos meus pais.

Tive a sorte de crescer com esta banda sonora familiar de dignidade pela condição humana. Fui um jovem de “Missangas”, naveguei num “Barco Voador”, encontrei em “Zanzibar” as amizades de sempre, descobri o lado agridoce de ter uma “Outra Vida” (e uma outra língua) e, ultimamente, chego à conclusão que “Sangue Bom” é esse sangue arraçado que não conhece fronteiras porque nas veias só se leva a geografia dos afectos.

Vivemos tempos desalmados. A música do João tem alma e faz deste mundo um melhor sítio para sermos pessoas. O sentido que tenho da vida ao som da sua voz leva-me para essas pequenas grandes coisas: um café, a caruma dos pinhais de maresia, um burro, uma viola e um cão convertidos num abraço peregrino na paz de Santiago.

Contar com o João Afonso aqui é poder dizer aos meus filhos (e talvez a alguns dos meus alunos) que mesmo que naufraguemos das estrelas sempre teremos o barco voador das nossas infâncias para nos socorrer.

Tenho a esperança que, hoje, nesta sala que em Badajoz fala português, fique algo mais que a língua da lusofonia. Que fique um pedaço de tempo feito semente de que vale a pena sonhar…

Luis Leal

Sem comentários:

Enviar um comentário