«A meio da
noite Pedro despertou estremunhado.
Não sabia ao certo onde estava, estranhou
a falta dos panos da tenda e a moleza do chão. "Já acabou o acampamento mas isto não é o meu quarto". Pensou com as ideias envolvidas em
nebulosa. "A...". Um ruído surdo seguido de estalidos pô-lo de
sobreaviso. "O que é isto?" Sentara-se na cama a esfregar os olhos e
apesar da escuridão pegou nos
óculos. Os ruídos continuavam: crac... crac..., com um certo ritmo de barulho e
pausas salteadas. Não se tratava portanto de estalidos na madeira. Olhou pela janela e chuva também não
era. "Ratos?" Apurou o
ouvido e ficou sem pinga de sangue
porque lhe pareceu ouvir uma
respiração ofegante atrás da parede. — Chico! — chamou em surdina. — Chico! Queria acender a luz e não atinava com
o fio do candeeiro. "Ah... ah..." A respiração alterara-se e agora
ressoavam suspiros! Gelado de pavor, saltou
da cama e foi abanar o Chico. — Acorda, pá! Ele sobressaltou-se. — Hã... o que foi? Hã? As raparigas, acordadas
pelo mesmo som cavernoso, reagiram
lançando-se pela escada abaixo a chamar pelos amigos. Chocaram com eles, tropeçaram
uns nos outros e rebolaram pelo
tapete em várias direcções. Pedro deu
uma bruta cabeçada na parede, Filipa magoou-se
horrivelmente no bico de uma mesa, as gémeas derrubaram peças de loiça e os gemidos foram abafados por um berro monumental e gutural: — Uahrrr... Seguiu-se uma berraria desafinada e a
luz acendeu-se como que por encanto.
Estavam todos brancos como a cal e entreolharam-se apalermados. — O que é que aconteceu? — gaguejou a Filipa. — Ah... — Ouvi
barulhos... — Eu também. Instintivamente calaram-se,
e o silêncio abateu-se sobre eles
como uma garra.
—
Tenho os ombros gelados — queixou-se
a Teresa. Luísa esfregou os próprios
braços como se também ela sentisse frio. — Quem é que acendeu a luz? — perguntou. — Quanto a isso não se
preocupem — informou o Pedro. — Carreguei
num botão por acaso. — E quem é que deu berros
tipo urso enfurecido? O João e o Chico acusaram-se,
abanando a cabeça, e deixaram-se cair
ambos no sofá. — Acho que vi um
fantasma — disse o João por fim. —
Ou melhor, tenho a certeza.»
(in “Uma Aventura na Casa Assombrada”, pp.
46-47)
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